Policiais se juntam e buscam apoio espiritual em grupos cristãos

quinta-feira, maio 31, 2012

Encontro do grupo 'Policiais de Jesus', que se reúne mensalmente na Câmara de São Paulo
Fundado há três anos pelo escrivão Artur Juliano e pelo delegado Luís Gabriel Garcia, ambos da Polícia Civil, o grupo ‘Policiais de Jesus’ organiza reuniões com esses profissionais para que, juntos, possam ouvir pregações bíblicas e orarem pelos dramas que enfrentam.
O grupo conta com cerca de 100 seguidores, em torno de 0,3% dos 34 mil integrantes da força de segurança pública. Os cultos acontecem quase todos os dias em quatro departamentos da corporação. Uma vez por mês, eles se juntam na Câmara Municipal de São Paulo.
Juliano havia tentado organizar a associação em três ocasiões nos últimos quinze anos, sem sucesso. “Faltava um delegado para comandar o projeto”, diz. Além do cargo, outros atributos do chefe colaboram para o sucesso da empreitada. Carismático, ele mescla os sermões com piadas e histórias pessoais. “Todos os dias sou procurado por colegas para ouvir seus problemas e dilemas”, conta.
Apesar da naturalidade de sua oratória, o delegado converteu-se há apenas dez anos, após um divórcio conturbado. “Eu tinha preconceito, achava que os crentes eram apenas pessoas sem oportunidade ou perspectiva de vida”, disse Garcia.
'PMs de Cristo' conta com 1.470 associados e completa 20 anos em junho
Um dos discípulos de Garcia é Nadivaldo de Rossi, delegado no 101° Distrito Policial, no Jardim das Embuias, na Zona Sul de São Paulo. Responsável pelo envio de e-mails com mensagens cristãs aos associados, ele tem frequentado as reuniões há dois meses em busca de paz espiritual. “Preciso do apoio para não me transformar em um ser humano truculento e impiedoso”, afirma.
Alguns casos que chegam à delegacia causam impacto maior: há três semanas, Rossi começou a investigar a morte de uma menina de quatro meses. O principal suspeito é o pai, um usuário de drogas. “Às vezes, o grito de dor de uma mãe fica em nossa lembrança por muito tempo”, disse.
Para ajudarem a conviver com o stress, os cultos abordam os percalços específicos e inerentes à atividade policial. “Os agentes se sentem mais à vontade para conversar comigo sobre seus problemas porque eu também ando armado e lido com bandidos”, acredita Garcia. O trabalho é inspirado no de outra entidade, a ‘PMs de Cristo’, que reúne 1.470 associados e completa vinte anos de existência em junho.
“Nosso sonho é que surjam grupos semelhantes também na Polícia Federal e na Guarda Municipal”, diz o cabo Valdir Alves, que prega no 28° Batalhão da PM e é pastor da Igreja Evangélica Cristã Presbiteriana. “Na religião, policiais civis e militares são irmãos, o que pode soar como heresia àqueles que enxergam as duas corporações como rivais”, afirma Garcia.
Apesar do crescimento de movimentos semelhantes, os mesmos não são bem vistos por especialistas no assunto. “Instituir uma religião em uma corporação representa séria ameaça ao estado laico”, entende o cientista político Guaracy Mingardi. Para ele, a interferência de crenças causaria prejuízo ao patrulhamento nas ruas. “Num exemplo hipotético, um policial pode resolver citar a ‘bíblia’ ao intervir em uma briga de vizinhos para tentar converter os envolvidos. E isso seria inadmissível”. Os policiais que participam desses grupos, porém, afirmam que não confundem a cruz com a espada

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