Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias
Com o corte de ponto anunciado pelo governo do Estado em,
os professores da rede estadual de ensino, em greve há 57 dias, têm se
virado pelo avesso para pagar as contas sem abrir mão da paralisação. A
receita inclui corte de gastos, um pouco de solidariedade, mais um tanto
de jogo de cintura e, se tiver sorte, empréstimos bancários. Os colegas
Evando de Oliveira e Betânia Carneiro, que lecionam língua portuguesa
em escolas de Riachão do Jacuípe, fizeram as contas e encararam três
horas de estrada para participar da assembleia da categoria, realizada
nesta terça-feira (5), em frente à Secretaria Estadual de Educação, em
Salvador. A dupla e outros 20 conterrâneos compartilham as dificuldades
de viver sem o vencimento mensal. “Sem salário, não tem margem para
empréstimo bancário. Para conseguir dinheiro no banco, só se for amigo
do gerente. As famílias estão ajudando. Os amigos estão ajudando. Nós
estamos sobrevivendo com a ajuda dos outros. Se não tiver ajuda nós
morremos de fome”, relatou Evando, em entrevista ao Bahia Notícias. “Não
temos margem nem para comprar na Cesta do Povo. O cartão está sem
limite”, completou Betânia. E o que fazer quando toda a renda da casa
vem do trabalho nas salas de aulas das escolas estaduais? O professor
Luís Nascimento, casado há quase dez anos com uma colega, dá a dica. “A
gente sempre economizou, então temos uma reserva, mas estamos fazendo
contorcionismo para não ficar no vermelho. O mais importante é não
deixar se abater e continuar a luta”, contou.
Apesar dos relatos de dificuldades financeiras, os docentes não aceitaram a proposta reapresentada pelo governador Jaques Wagner,
que prevê a antecipação de ganhos escalonados de 3% e 4% para novembro
deste ano e abril de 2013. “Não foi uma reapresentação de proposta. O
que ele está dando é uma coisa que já existe na lei para professores
certificados e que só atinge 10% da categoria”, argumenta Jaqueline
Correia, que atua em uma unidade de ensino do bairro de Paripe, em
Salvador. A promessa é que, sem o reajuste linear de 22,22% que
garantiria o piso nacional, não tem volta ao trabalho. “Não queremos
parede, teto, nem migalhas. Queremos o piso. Se ele não vem fazemos
vaquinhas, fazemos bazar, vamos nos ajudando”, conclui Jaqueline. A
notícia de que o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) havia determinado o
restabelecimento imediato do pagamento dos salários
trouxe um alento para a categoria, mas apenas passageiro, já que o
governo promete recorrer à decisão e, enquanto isso, os docentes seguem
na expectativa e prometem não ceder.
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